sexta-feira, julho 20, 2007


os meus agradecimentos ao meiocroft

quinta-feira, julho 12, 2007

O funcionário público: esse “mal” da nação

Existe neste país, como existe noutros, um preconceito muito chato, há muito tempo, e que por este último factor o torna ainda mais preconceituoso: ser-se funcionário público é automaticamente sinónimo de ser-se malandro.
Ora, eu, por não me considerar malandro, embora até possa pareça por estar aqui a escrever, chateia-me de sobremaneira esta situação. Não só por se tratar, apenas e só, de um preconceito, mas que ultimamente tem dado origem a ficar chateado com os meus amigos quando me vêem com esta conversa – a de que não produzimos (?). Por isso perco este tempo para escrever estas linhas para que todos leiam e não me cansem mais com esta conversa. Cá vai...

1.ª bojarda: “Ah! Na função pública não se produz nada!”.
Antes de mais, há que não confundir “produtividade” com “quantidade de trabalho”. Preciosismos? Talvez! (já agora e que “qualidade” tem esta “quantidade”). Coisa fina esta da produtividade na função pública! Mas a produtividade não é produção de riqueza? Não me digam que este não é um objectivo sobretudo do sector privado enquanto ”motor” da economia de uma sociedade que se quer democrática e (pró)neoliberal(?) como a nossa.
Ao sector público, não lhe cabe um papel produtivo, mas antes e sobretudo o de gestão, regulação, orientação, etc, da actividade privada. Para isso são criadas os mais variados incentivos, regras, leis, etc, - as politicas, no fundo - definidos pelos eleitos por todos nós. Ao funcionário público compete-lhe a tarefa de as implementar (e também contribuir) para a sua definição.
Assim, quando me vêm com esta conversa da produtividade, normalmente acabam (os meus amigos) a ouvirem o que não querem e que é: que a culpa disto estar como está, não é uma exclusividade do sector público como pensam, mas antes e sobretudo, naturalmente com algumas excepções, de um sector privado que o pouco que produz, produz geralmente mal. Por isso, a transpiração a mim não me diz nada, apesar de transpirar muito no que faço diariamente.

2.ª bojarda: “Mas isto está como está porque o dinheiro do estado é todo gasto na função pública!”.
É verdade. Só não acho que seja o funcionário público (o técnico) o responsável por este despesismo. É que metem no mesmo saco os dirigentes nomeados e eleitos, com os restantes funcionários publicos...
Por outro lado, não conheço um funcionário público que “fuja” aos impostos. Não pode. Os descontos são feitos directamente do ordenado. Não tem como “fugir”. Já não posso dizer o mesmo do sector privado. Aliás, vão sendo os funcionários públicos que neste panorama impunidade, “fuga ao fisco” e subsídio-dependência do sector privado, que mais contribuem para “manter” a própria máquina a funcionar. Portanto, e mais uma vez, não é, de certeza, culpa do funcionário público a falta de receitas fiscais. Poderá ser uma parte do problema no que respeita à despesa (por haver desperdicio que o há), mas não é de certeza nas receitas.
Agora, os dirigentes eleitos por todos nós, os seus nomeados e o sector privado (com a sua dependência subsidiária) tem culpa no cartório quer nas despesas quer nas receitas.

3.ª bojarda: “Sabes o que quero dizer. Na privada é que se trabalha muito! A maioria de vocês não faz nenhum!”
Pois, é verdade que há muito gente que não faz nenhum na função pública. Mas também há muita gente que trabalha muito e que injustamente “paga” por quem não trabalha. E depois há os “quanto baste”, que o que querem é não terem chatices e até uma carreira razoável.
Esquecem-se, no entanto, que isto é igual a todo o lado que tenha mais de 300 pessoas a trabalharem no mesmo sítio. Inclusive no sector privado. E esta é para mim a comparação correcta: comparar estruturas “pesadas” públicas (poruqe só as existem assim) com estruturas privadas idênticas (“pesadas” no caso). Depois venham cá dizer que só os funcionários públicos é que são maus funcionários e não fazem nada! Maus funcionários, “assim assim” e bons existem em todo o lado. No sector privado com estas caracteristicas, então! Todos entusiasmados, a trabalharem imenso, para que a empresa prospere, e coisa, e tal... juizo!

4.ª boca: “Ah! Mas vocês têm regalias e direitos que mais ninguém tem!”
Mas agora eu tenho de andar a pedir desculpa pelos direitos e regalias da função pública (e que por este andar vão acabar).
Se se ganha pior na pública que na privada, se as condições de trabalho são piores, ao menos que haja alguma coisa que atraia as pessoas para lá. Ou seja, estabilidade e regalias.
Mas não se chateiem, que até mesmo estes direitos e regalias tem os dias contados, os ordenados tem tendência a ficarem sempre na mesma, o tempo de serviço aumentar.... só coisas boas para atrair pessoas qualificadas para a função pública.
Ah! encontrem-me um patrão de uma estrutura pesada (fábrica, po exemplo) que tenha facilidade em despedir um seu funcionário sem justa causa. Façam lá um inquérito rápido no Tribunal do Trabalho a ver quem ganha a maioria das causas. Pois! Na pública também se vai para a rua por Justa Causa... é mais borucrático, mas também se vai. Confundir contracto vitalicio com emprego para a vida inteira é no que dá.

5.ª boca: “Eu também não quero ser funcionário público!”
Duvido disso. A mim parece-me que na maioria dos casos é “dor de cotovelo”.

Conclusão:
Acho que este preconceito é mais um daqueles tipos de preconceitos bons para encher o “ego”. Já estou mesmo a ver o pensamento das pessoas: “eu estou na privada, logo eu trabalho muito (mesmo que não trabalhe), logo os outros da pública é que são uns malandros, logo a culpa disto tudo é deles. Fixe!...Mas a verdade, é que não me importava de ir para lá!....”
Que raio de mania esta de falarem daquilo que não sabem. Irrito-me porque, quem não souber oque é trabalhar numa estrutura grande e pesada, para mim, não tem legitimidade nenhuma para opinar naquilo que desconhece.

ups! Mas que injustiça a minha! Estou a meter o sector privado todo no mesmo saco...

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